Publicado em: 23/11/2023 às 00:09:47
Tempo estimado de leitura 3 minuto(s)
A chegada de brasileiros a Portugal tem sido marcada por um desafio angustiante: a falta de moradia acessível. Especialmente em Lisboa, onde os aluguéis atingem patamares recordes na Europa, centenas de recém-chegados encontram-se sem opções viáveis, contribuindo assim para o aumento da população de rua no país.
De acordo com dados da Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem Abrigo 2017-2023 (Enipssa), cerca de 9,6 mil pessoas vivem nas ruas em Portugal. Na área metropolitana de Lisboa, aproximadamente 17% desses indivíduos são provenientes de outros países, incluindo brasileiros, embora não sejam especificamente identificados no último relatório de 2021.
Apesar da possibilidade de defasagem nos números, defensores dos sem-teto observam um aumento notável ao longo deste ano na presença de pessoas, especialmente brasileiros, vivendo em condições precárias, como barracas improvisadas ou sob marquises.
Esse fenômeno é uma manifestação direta da crise habitacional que assola todo o país. Muitos desses novos emigrantes brasileiros, que investiram todos os seus recursos na mudança para Portugal, encontram-se sem alternativas viáveis, explicou Nuno Jardim, diretor do Centro de Apoio ao Sem Abrigo (Casa).
Nuno Jardim também destacou a presença notável de estrangeiros, especialmente aqueles que chegaram recentemente de países como Brasil, África, Nepal e Oriente Médio. Ele explicou que muitos desses indivíduos se encontram sem alternativas em Portugal, resultando na difícil realidade de acabarem nas ruas, buscando ajuda. Ele enfatizou que isso é particularmente verdadeiro para muitos brasileiros, aos quais sua organização oferece apoio social devido à situação desesperadora em que se encontram. Essa perspectiva ressalta os desafios enfrentados por aqueles que buscam uma vida melhor no país.
Com a chegada do outono e o clima mais rigoroso, a Estação Oriente tornou-se um refúgio para pelo menos 100 pessoas, entre brasileiros, portugueses e outros estrangeiros, que buscam abrigo nas áreas ao redor ou no piso inferior do terminal de transportes da capital. Este cenário reforça a urgência de encontrar soluções para a crise habitacional e proporcionar condições dignas para aqueles que buscam uma nova vida em terras portuguesas.
Em contraste com as ruas desprotegidas, a Estação Oriente, um dos maiores terminais do país, oferece uma opção mais segura e quente. O local abriga uma intrincada rede de camas improvisadas, onde cobertores e lençóis se estendem sobre malas, bolsas e sacolas plásticas. Diariamente, milhares de pessoas percorrem um longo corredor formado por essas improvisadas áreas de descanso, que são desocupadas durante o dia quando seus ocupantes saem em busca de trabalho ou alimentos.
No piso inferior, um banheiro gratuito é utilizado de forma comunitária tanto por aqueles que habitam a estação quanto pelos passageiros em trânsito. A dinâmica peculiar deste espaço revela a complexidade das vidas entrelaçadas na Estação Oriente.
Entretanto, o desafio vai além das condições físicas. Brasileiros que se encontram nessa situação muitas vezes preferem manter o anonimato, escondendo seus rostos e nomes por vergonha da situação em que se encontram. Muitos deixaram familiares no Brasil, buscando uma vida melhor em Portugal, mas se deparam com uma realidade mais difícil do que imaginavam.
A percepção de alguns brasileiros, que chegam esperando uma realidade semelhante à dos anos 1990 em Portugal, colide com a dificuldade em encontrar trabalho, moradia e os inevitáveis atrasos burocráticos no processo de documentação, agravados pelas mudanças em curso nos órgãos de imigração. Este é um retrato complexo das expectativas confrontadas pela diáspora brasileira em terras portuguesas.
Dormir na Estação Oriente tornou-se uma opção para muitas pessoas em busca de proteção contra o frio e possíveis furtos nas ruas. Apesar do policiamento interno na estação, episódios de brigas e discussões ainda ocorrem. No entanto, os brasileiros e outros imigrantes afirmam que preferem Portugal, considerando o país mais seguro do que suas cidades de origem.
Embora alguns brasileiros consigam encontrar empregos temporários rapidamente, os salários modestos dificultam o pagamento do aluguel de quartos em condições ideais de habitação, segurança e privacidade. A escassez de vagas no centro da cidade leva muitos a optarem por morar em barracas, conforme relatado anteriormente.
Desafios Econômicos dos Recém-chegados
Ao contrário de empresários e outros brasileiros que desembarcaram em Portugal com trabalho ou renda, garantindo certa estabilidade ao longo dos anos, os recém-chegados enfrentam um cenário econômico desafiador. Com poucos recursos financeiros de reserva, muitos podem esgotar suas economias em poucas semanas devido ao câmbio desfavorável em relação ao euro e à inflação.
A situação atual é marcada pelo aumento substancial dos custos essenciais para levar uma vida digna em Portugal, afetando toda a população. Mesmo o salário médio não tem sido adequado, o que ressalta os desafios econômicos inesperados enfrentados pelos recém-chegados, que agora lidam com uma adaptação complexa à realidade econômica do país.
Fonte: O Globo.
© Todos os direitos reservados. 2023